Proteção e Gestão de um Sitio Aratu no Oeste da Bahia
S12 Revisitando a Tradição Aratu a partir de suas formas de variabilidade tecnológica e contextuais
S12T95

Alvandyr Dantas Bezerra;

– “Alô! É da polícia? Estão escavando os potes de cerâmica aqui da Vila de Piragiba…” (Outubro de 2020). – “Vão colocar poste de energia aqui na Vila de Piragiba? Tem de ter cuidado. Aqui é um sítio arqueológico…” (Maio de 2004). O Sítio Arqueológico Praça de Piragiba está localizado no município do Muquém do São Francisco, Oeste da Bahia. No período de 1996 a 1998, as primeiras pesquisas arqueológicas são conduzidas por uma equipe da Universidade Federal da Bahia (UFBA), sob a Coordenação do Prof. Carlos Etchevarne e apresenta para o mundo acadêmico importantes resultados das pesquisas, com a identificação de mais de 140 sepultamentos, quase todos em urnas funerárias e a coleta de mais de 500 lâminas de machado lascadas, além de alguns milhares de lascas. Após esse período, outras pesquisas se seguiram sob a Coordenação do Prof. Luydy Fernandes, a partir de parcerias entre a UFRB e UFMG, ampliando as informações e percepções sobre a Tradição Aratu. Quase 25 anos após as primeiras pesquisas em Piragiba, o sítio Aratu identificado na Vila, continua resistindo ao tempo e às ameaças antrópicas, escondendo no subsolo uma série de outras urnas funerárias. A quem podemos atribuir a preservação dos vestígios Aratu ainda existentes? Aos pesquisadores que vem e vão? Ao IPHAN? Aos Gestores Municipais? Talvez a todos, mas sem a participação e o reconhecimento dos moradores da importância desse espaço arqueológico as pesquisas não teriam continuidade. A inserção do trabalho do arqueólogo dentro de comunidades tem permitido diversas reflexões sobre a relação entre o pesquisador e as pessoas que residem no entorno dos sítios arqueológicos, demonstrando a consolidação da ideia de que as pesquisas, desenvolvidas em conjunto com moradores locais, possibilitam uma nova percepção deles acerca dos sítios arqueológicos. Uma nova visão pode redundar na própria preservação dos mesmos. Essa relação de perceptibilidade dos locais arqueológicos que se instala, via a pesquisa, induz a novas caracterizações territoriais e posicionamentos espaciais referenciais, no plano simbólico e no prático, construídos pelos próprios habitantes vizinhos aos sítios. Dessa percepção podem derivar estímulos para a conservação e uso dos locais, que ficariam assim, envolvidos na esfera reconhecível do universo do cotidiano. A Vila de Piragiba é um exemplo!