A Temporalidade da Paisagem Quilombola da Ilha de Tinharé. Permanências e Rupturas da Territorialidade Associada a História de Formação da Comunidade Quilombola de Galeão
S09 Arqueologia: Patrimônios e Territórios
S09T61

Fabio Guaraldo Almeida;

Os grupos que hoje são considerados remanescentes de quilombos se constituíram a partir de uma grande diversidade de processos históricos (GUSMÃO, 1996; ALMEIDA, 1998). Além do modelo palmarino – assentamentos formados por grupos de escravizados fugidos –, existem quilombos formados em terras doadas pelos ex-senhores, em terras recebidas como pagamento por serviços prestados ao Estado, pela simples permanência de ex-escravizados nas terras das fazendas abandonadas pelos seus proprietários falidos, porções de terras compradas pelos ex-escravos, formação de comunidades em terras da igreja ou vilas e sedes de fazendas ocupadas pelos ex-escravos, tanto durante a vigência do sistema escravocrata quanto após a abolição (ALMEIDA, 1998). O levantamento arqueológico realizado junto à comunidade quilombola de Galeão (situada na ilha de Tinharé, município de Cairú, na região litorânea do baixo sul baiano) aponta que os ex-escravizados das antigas fazendas dos pequenos lavradores locais e os quilombolas que formaram pequenos assentamentos no interior da ilha durante o sistema escravista, se juntaram no período pós abolição e, paulatinamente, ocuparam a antiga vila colonial abandonada pela oligarquia branca falida. A presente comunicação pretende mostrar o conjunto de sítios arqueológicos, mapeados na ilha de Tinharé ao longo do trabalho de etnografia arqueológica realizado junto com os moradores da comunidade de Galeão. A caracterização desses sítios a partir do anacronismo histórico revela um palimpsesto dinâmico, fluido e sobreposto por fronteiras territoriais de diferentes grupos em constante interrelação com os lugares e elementos da paisagem insular regional. Por outro lado, o trabalho etnográfico mostra como a territorialidade da atual comunidade quilombola de Galeão preservou padrões de mobilidade, associando áreas de moradia e locais de atividades, que permitem uma correlação com os tipos de sítios arqueológicos mapeados na ilha. O resultado das pesquisas revelou fatores de sincronismo da paisagem quilombola da ilha de Tinharé na longa duração, relevantes para pensar categorias atuais de patrimônio, identidade e território quilombola.